Kassel não Convida à Lógica
Kassel não Convida à Lógica
Enrique Vila-Matas
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(…) gostaria de saber se já ouviu falar da Documenta de Kassel. Tinha ouvido falar, e muito, disse eu. E mais, alguns amigos, nos anos setenta, tinham regressado de lá transformados, depois de terem visto obras de vanguarda prodigiosas. De facto, Kassel era, por esse e outros motivos, todo um mito dos meus anos de juventude, um mito não destruído; era o mito da minha geração, e também, se não me equivocava, das gerações que se seguiram à minha, pois todos os cinco anos se concentravam ali obras de ruptura. Por trás do mito de Kassel, acabei por lhe dizer, estava o mito das vanguardas.
Pois ela tinha o encargo, (…) de me convidar a participar na Documenta 13. (…) não me tinha propriamente mentido quando me falara de uma proposta irresistível. Sentia-me feliz por aquela proposta, mas contive o entusiasmo. Esperei uns segundos para perguntar o que se esperava de um escritor como eu numa exposição de arte como aquela. Que se soubesse, acrescentei, os escritores não iam a Kassel. E os pássaros não vão morrer ao Peru, disse Boston, demonstrando ser muito ágil a responder. Uma boa frase mcguffin, pensei eu. Seguiu-se um breve, intenso silêncio, que ela quebrou. Tinham-na encarregado de me pedir que em finais do Verão de 2012, ao longo de três semanas, passasse todas as manhãs no restaurante chinês Dschingis Khan, nas aforas de Kassel.
– Chings quê?
– Dschingis Khan.
– Num chinês?
– Sim. A escrever à vista do público.
Pois ela tinha o encargo, (…) de me convidar a participar na Documenta 13. (…) não me tinha propriamente mentido quando me falara de uma proposta irresistível. Sentia-me feliz por aquela proposta, mas contive o entusiasmo. Esperei uns segundos para perguntar o que se esperava de um escritor como eu numa exposição de arte como aquela. Que se soubesse, acrescentei, os escritores não iam a Kassel. E os pássaros não vão morrer ao Peru, disse Boston, demonstrando ser muito ágil a responder. Uma boa frase mcguffin, pensei eu. Seguiu-se um breve, intenso silêncio, que ela quebrou. Tinham-na encarregado de me pedir que em finais do Verão de 2012, ao longo de três semanas, passasse todas as manhãs no restaurante chinês Dschingis Khan, nas aforas de Kassel.
– Chings quê?
– Dschingis Khan.
– Num chinês?
– Sim. A escrever à vista do público.
Ano de edição: 2014
Páginas: 260
Coleção: Teodolito Ficção
Dimensões: 16,2 x 23,5 cm
Encadernação: Brochado
ISBN: 978-989-8580-21-4
Ver detalhes completosEnrique Vila-Matas
Enrique Vila-Matas nasceu em Barcelona em 1948. Em 1968 foi viver para Paris, autoexilado do governo de Franco e à procura de maior liberdade criativa. O apartamento onde se instalou foi-lhe alugado pela escritora Marguerite Duras. Durante esse anos subsistiu realizando pequenos trabalhos como jornalista para a revista "Fotogramas", e chegou a colaborar como figurante num filme de James Bond.
Vila-Matas publicou o seu primeiro livro, "La Asesina Ilustrada", em 1977, e desde então não mais deixou de escrever porque, de acordo com o que o próprio afirmou, "escrever é corrigir a vida, é a única coisa que nos protege das feridas e dos golpes da vida."
Com a publicação de "História Abreviada da Literatura Portátil" começou a ser reconhecido e admirado no âmbito internacional, especialmente nos países latino-americanos e Portugal.
As suas obras são uma mescla de ensaio, crónica jornalística e novela. A sua literatura, fragmentária e irónica, dilui os limites entre a ficção e a realidade. Desenvolveu uma ampla obra narrativa que se inicia em 1973 e que, até à data, foi traduzida para nove idiomas. Atualmente é um dos narradores espanhóis mais elogiados pela crítica nacional e internacional, ainda que os prémios e o reconhecimento em Espanha tenham chegado tardiamente.
Vila-Matas publicou o seu primeiro livro, "La Asesina Ilustrada", em 1977, e desde então não mais deixou de escrever porque, de acordo com o que o próprio afirmou, "escrever é corrigir a vida, é a única coisa que nos protege das feridas e dos golpes da vida."
Com a publicação de "História Abreviada da Literatura Portátil" começou a ser reconhecido e admirado no âmbito internacional, especialmente nos países latino-americanos e Portugal.
As suas obras são uma mescla de ensaio, crónica jornalística e novela. A sua literatura, fragmentária e irónica, dilui os limites entre a ficção e a realidade. Desenvolveu uma ampla obra narrativa que se inicia em 1973 e que, até à data, foi traduzida para nove idiomas. Atualmente é um dos narradores espanhóis mais elogiados pela crítica nacional e internacional, ainda que os prémios e o reconhecimento em Espanha tenham chegado tardiamente.
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